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"Quero construir uma história no Santos", diz Jair Ventura

"Quero construir uma história no Santos", diz Jair Ventura




Em entrevista, treinador falou o que pensa sobre futebol, sobre a vida e sobre os planos para o futuro

Quando Jair Ventura aceitou dirigir o Santos, sabia que não poderia contar com Ricardo Oliveira e Lucas Lima. Os dois, de acordo com o próprio treinador, foram responsáveis por metade dos gols da equipe no ano passado. Zeca também estava fora dos planos desde outubro. “Falei, mas eu ainda tenho um jogador que realmente é diferente, que é o Bruno Henrique”, pensou Jair, na época. O destino, entretanto, o surpreenderia. O atacante, destaque do Brasileirão de 2017, ficaria fora desde a primeira partida da temporada. “Mas a gente conseguiu alternativas dentro do elenco do Santos. Todo mundo fala muito em contratações. A nossa diretoria está trabalhando para isso. Mas a torcida quer que o Santos esteja disputando títulos”. Em resumo, esse é o balanço que Jair Ventura faz de três meses de trabalho no clube. Nesta entrevista exclusiva para A Tribuna, ele ainda falou sobre o que pensa sobre futebol, sobre a vida, o que planeja para o futuro e como tem sido para um carioca viver em Santos.


Você costuma dizer que o Santos está em formação. Até quando?

A gente já consegue ver conceitos, ver a resposta do grupo que eu acho que é o mais importante, porque se o grupo não abraçar minha ideia e o que eu penso do futebol fica muito difícil. Então, com a resposta deles eu fico muito satisfeito.

Como você avalia as duas partidas contra o Palmeiras?

Foi unânime que o Jaílson foi o melhor em campo e isso mostra a força que foi o Santos. Muitas vezes o Vanderlei foi a nossa força. Isso mostra que nós sofremos e, agora, quem sofreu foi o Palmeiras. Mesmo com tanto investimento.

O que falar da Libertadores?

Um grupo muito difícil. A situação da altitude realmente foi muito diferente (na derrota por 2 a 0 para o Real Garcilaso, no Peru). A gente tem que voltar e recuperar esses pontos que a gente perdeu na altitude para conseguir a nossa classificação.

Quando o time do Santos estará pronto?

Nunca tá bom. Pode melhorar. O nosso melhor jogo no ano, com um jogador a menos, foi quando a gente teve o maior tempo de treino (na vitória por 3 a 1 sobre o Nacional, do Uruguai, no Pacaembu). Foram dez dias, porque eu optei por não jogar com os titulares contra o Novorizontino e o São Bento. Mesmo com um jogador a menos, o time estava leve e entrosado


Como se dá padrão ao time?

Isso é dado dentro dos jogos, dentro dos treinos, com repetição, repetição. Não tem jeito. Não tem um tempo ideal. Depende muito da resposta do seu grupo e eu já fico feliz com a resposta do meu grupo. Eu consigo ver bastante coisa que a gente trabalha, mas que são invisíveis porque eu fecho os treinos. Essa situação para entrar no automático requer tempo.

Por que precisa fechar treino?

Porque é uma estratégia que você pode surpreender o adversário. Não é porque eu gosto nem contra a imprensa. Mas contra o outro treinador. Eu fui surpreendido quando o Nacional do Uruguai veio com três zagueiros. Meu observador tinha estado no Uruguai e eles não tinham feito isso ainda. A gente observa de cinco a seis jogos do próximo adversário.

O que significa conhecer a tática do adversário?

O encaixe da marcação. Eu tenho o Alison e o Renato. Um é mais marcação e o outro para saída em apoio. Se eu tenho um lado que o jogador é de mais qualidade de drible, eu vou ter que trocar o Renato e o Alison de lado. Então, se eu tenho um adversário que vai jogar com dois caras no meio, eu não preciso de dois volantes. Eu inverto o meu 4-3-3. Em vez de fazer 4-2-3-1, eu faço 4-1-4-1. 

Como você estuda futebol? Você estuda apenas o adversário ou assiste a uma grande quantidade de jogos?

É utopia. Quem falar que hoje, trabalhando, você consegue acompanhar, é mentira. Eu fiquei desempregado sete meses. Eu vi muito futebol. Analisei tudo o que estava acontecendo no muito. Hoje, não dá tempo. Eu jogo de três em três dias. Eu tenho que ver o meu time e o adversário. Eu vejo o meu jogo todo de novo e tenho que dar treino. Você tá no cinema com a esposa e tá pensando no 4-3-3. É uma loucura.

Você costuma usar palavras que não são comuns, como anamnese, oportunizar e performar. De onde você as tira?

Leitura. Eu gosto de ler e estou sempre lendo.


O que você lê?

De tudo um pouco. Agora, eu tô lendo o poder do nosso subconsciente. Não só coisas voltadas ao futebol, mas à vida. Porque o treinador de futebol é gestão de pessoas.

Você é um cara que está sempre de bom humor e trata a todos bem. Os funcionários do Santos já me confidenciaram isso e os jornalistas, em geral, também dizem o mesmo. É preciso agir dessa forma, hoje em dia, para ter sucesso profissional?

Fundamental. Porque você é um gestor de pessoas, uma referência. Eu sou um cara muito competitivo, mas hoje eu sou equilibrado. Então, imagina que eu perca um jogo e entro no vestiário quebrando tudo, chutando e xingando meus jogadores? Esse cara tá desequilibrado. Como que o cara que tem que dar o equilíbrio está assim. O piloto de um avião começa a ter turbulência e ele começa a chorar. Não pode. A gente tem de ter equilíbrio.

O que te aborrece?

Inverdades. Se você falar que eu fui eliminado, beleza. Se você falar que o meu percentual de aproveitamento foi baixo dentro do Paulista, é verdade, não tenho o que falar. Mas se você falar que a gente está tentando jogar de uma maneira que a gente não está, e eu tenho como comprovar pelos números e pelo trabalho, isso me deixa magoado.

O que mais?

As pessoas não reconhecerem os seus erros. É uma coisa que os meus amigos falam que me tira do sério. Por exemplo, você tá aqui e deixou o telefone cair. Aí você diz “não pô, esbarrou aqui”. Não, você deixou cair. Eu tô vendo. Não foi o vento. “Ah Jair, você entrou com quatro atacantes e tomou de quatro. Você foi audacioso”. Sim, fui.


Você chegou a conversar com o Zeca?

Não. Quando eu cheguei já estava uma confusão danada.

Até que ponto uma contratação tem que passar pelo treinador?

Eu acho fundamental. Não adianta nada contratar e o treinador não usar. Perde o jogador, perde o clube que fez o investimento. Mas lógico que o treinador não pode ser determinante, porque a gente sabe que o prazo de validade do treinador no Brasil é de três meses. Eu acho que tem que ser um consenso. Como foi do Sasha e do Dodô.

O que o Gabriel precisa fazer para dar certo no Santos e na Europa?

Ah, é difícil, porque eu não acompanhei a passagem dele na Europa. E ele precisa fazer o que ele fez antes para ir (para a Europa). Eu falo pra ele que o jogo é 24 horas. Os mínimos detalhes a gente está sendo observado. É um Big Brother. E ele tem que pensar em tudo isso.

Você conversa muito com ele?

Converso e posso te dizer o que falei no início. Ele tem a consciência quando faz algo de errado. Quando isso acontece, ele está próximo do acerto. Ele tem chance de melhorar e ser um cara ainda melhor.


fonte : a tribuna

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