SANTOS
Contrato com investidor gera dívida de R$ 8 milhões ao Santos por Lucas Lima
Acordo com a Doyen determina garantias ao fundo caso o jogador deixe a Vila Belmiro ao fim do contrato ou até se renovar o vínculo; clube alega que documentos são inválidos
Por Leonardo Lourenço, São Paulo
06/04/2017 07h02 Atualizado há 1 hora
O meia Lucas Lima é um dos mais valorizados jogadores do elenco do Santos. Mesmo assim, é possível que ele deixe a Vila Belmiro no fim do ano, quando termina seu contrato, sem render um único centavo ao cofre alvinegro. Pior: o camisa 10 pode gerar uma dívida de cerca de R$ 8 milhões a um clube que sofre com problemas financeiros sistematicamente.
O contrato entre o Santos e a Doyen, que detém 80% dos direitos econômicos do jogador, prevê uma série de garantias ao fundo de investimentos, que não só recupera o valor original da compra (R$ 5,5 milhões), como lucra com juros compostos de 10% ao ano.
Os R$ 8 milhões são uma estimativa desta dívida a partir de 15 de novembro de 2017, o terceiro aniversário do acordo assinado pelo ex-presidente Odílio Rodrigues. A Doyen, porém, já pode executar essa cobrança a qualquer momento.
Lucas Lima tem contrato com o Santos até dezembro (Foto: Ivan Storti/ Santos FC)
Uma das cláusulas impõe ao Santos a obrigação de comprar os direitos da Doyen, caso seja a vontade do fundo, se Lucas Lima não tiver sido vendido até 31 de dezembro de 2016. A empresa, porém, ainda não exerceu esse direito.
O acordo que envolve Lucas Lima faz parte da disputa jurídica que se tornou a relação entre o Santos e a Doyen. A empresa acionou o clube para fazer valer os contratos milionários assinados por Odílio e considerados inválidos pelo atual mandatário alvinegro, Modesto Roma Júnior. O maior deles é o do atacante Leandro Damião, uma cobrança de 18 milhões de euros.
Há disputas também pelos pagamentos de direitos dos atacantes Geuvânio e Gabriel, vendidos ao Tianjin Quanjian, da China, e à Inter de Milão, respectivamente. O dinheiro dessas negociações está bloqueado pela Justiça.
Socorro financeiro
Lucas Lima foi contratado pelo Santos no final de 2013. O clube se comprometeu a comprar 40% dos direitos econômicos do Internacional por R$ 3 milhões e 40% dos direitos que pertenciam ao empresário Edson Khodor por R$ 2,5 milhões. Os gaúchos e o agente permaneceram com fatias de 10% cada.
Em crise, o Santos não conseguiu pagar o Inter e pediu socorro à Doyen, que repassou os R$ 3 milhões ao clube do Sul. O pagamento a Khodor, previsto para ser quitado apenas em outubro de 2014, também atrasou. Mais uma vez sem caixa, o Santos solicitou que o fundo pagasse os R$ 2,5 milhões ao empresário.
Um mês depois, o Santos cedeu os 80% dos direitos econômicos de Lucas Lima à Doyen e ficou sem nada – só voltaria a ser dono de uma fatia do meia no começo de 2015 ao comprar os 10% que ainda estavam com o Internacional.
É nesse contrato que a Doyen se protege de qualquer prejuízo. Nele, inclui a Taxa de Participação Mínima do Fundo e Taxa de Opção de Venda, ambas definidas como os R$ 5,5 milhões investidos, acrescidos de juros compostos de 10% ao ano.
A primeira deve ser paga pelo clube caso o atleta se torne um free agent, ou seja, sem vínculo com o Santos, como, por exemplo, ao término do contrato. A segunda é o direito do fundo de obrigar o clube a comprar os direitos que lhe pertencem a partir de 31 de dezembro de 2016.
Trecho do contrato entre Doyen e Santos dá direito ao fundo de obrigar o clube a comprar direitos de Lucas Lima (Foto: Reprodução)
Mesmo a possibilidade de renovação de Lucas Lima com o Santos, algo considerado pouco provável por pessoas próximas ao atleta, pode fazer com a Doyen receba a Taxa de Participação Mínima. Nesse caso, cabe à empresa, mais uma vez, decidir ser quer o dinheiro ou a manutenção dos direitos econômicos.
Na Justiça, o Santos tenta invalidar os contratos assinados por Odílio. Alega que eles são, na verdade, empréstimo com juros abusivos. E que as garantias deixam isso